Secretaria de Educação - Igrejinha/RS - Educação Infantil

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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Texto: Os desafios de estar Coordenador Pedagógico na atualidade

OS DESAFIOS DE ESTAR COORDENADOR PEDAGÓGICO NA ATUALIDADE


 Luciano Meneses Faria
     O papel do coordenador pedagógico ainda é muito complexo e divergem opiniões. Uns acreditam que a sua função está no fazer pedagógico, em auxiliar ou ser mediador de propostas e ações que visam atingir bons resultados na aprendizagem dos estudantes. Outros defendem que seu papel vai além do pedagógico, que seria um substituto do diretor, por estar ligado às questões burocráticas e administrativas da escola, um inspetor de pátio e sala de aula, agindo em caso de indisciplina dos alunos e até mesmo, caso necessário, agir a favor do professor em razão de conflitos entre alunos.
    Espera-se que o coordenador pedagógico seja especialista nas diversas didáticas e o parceiro do professor para transformar a escola em um espaço de aprendizagem. O que acontece na maioria dos casos é que, sem formação adequada, ele acaba assumindo funções administrativas e, a formação permanente dos profissionais que atuam em sala de aula fica em segundo plano ou desaparece.
    A importância deste estudo no seio da escola de educação básica, local de liderança deste sujeito facilitador, é pontual e necessário. Trataremos, neste trabalho, de uma reflexão que nos levará à compreensão do real papel do coordenador e como ele pode estar interagindo na comunidade escolar para alcançar bons êxitos na melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem, tornando o ambiente escolar propício ao desenvolvimento de um trabalho pedagógico, respeitando as distintas vozes que se apresentam na escola.
       Como agente responsável pela formação continuada na escola e com o objetivo de favorecer o trabalho docente na escola de educação básica, o coordenador pedagógico deve sensibilizar seu saber-fazer de maneira não centralizadora, tomando as decisões de acordo com o bem comum do coletivo. Embora muitos profissionais vêem o coordenador pedagógico como uma figura que tem que ‘saber tudo’ e dar todas as respostas para os  encaminhamentos pedagógicos, é necessário que este sujeito tenha liderança pedagógica e buscar no coletivo respostas aos desafios que se apresentam no ambiente escolar. Lima (2007) observa que quando o saber-fazer parte de uma concepção sensível da realidade, onde figura  como o mais importante a possibilidade de se trabalhar a intervenção pedagógica pela necessidade do grupo, pela identificação das manifestações que impactam mais de uma forma significativa estudantes e professores, não necessariamente somente causa prazer no clima organizacional da escola, mas promove a reflexão, o desafio, a significação da trajetória histórica em que vivem e desta, numa contextualização social, da qual a escola não está à margem.
      Piletti (1998, p.125) aponta as principais atribuições do coordenador pedagógico, listadas em quatro dimensões: a) acompanhar o professor em suas atividades de planejamento, docência e avaliação; b) fornecer subsídios que permitam aos professores atualizarem-se e aperfeiçoarem-se constantemente em relação ao exercício profissional; c) promover reuniões, discussões e debates com a população escolar e a comunidade no sentido de melhorar sempre mais o processo educativo; d) estimular os professores a desenvolverem com entusiasmo suas atividades, procurando auxiliá-los na prevenção e na solução dos problemas que aparecem.
      No entanto, a respeito deste amplo quadro de atribuições e até mesmo pelo desconhecimento das mesmas, muitos olhares sobre a identidade e função do coordenador pedagógico na escola, muitas das vezes lançados pelos próprios pares e a comunidade escolar. Ignorando o papel do coordenador pedagógico na escola, muitas atribuições são cobradas deste profissional que acaba assumindo uma função de gerenciamento na escola, que atende pais, alunos, professores e também se responsabiliza pela maioria das “emergências” que lá ocorrem, isto é, como personagem ‘resolve tudo’ e que deve responder pela vida da escola. Deste imaginário construído, muitos coordenadores acabam assumindo esse papel que se espera dele, passando a incorporar esse ‘modelo’ característico forjado em crenças institucionais e senso comum.
       Essas crenças no interior da escola e da comunidade escolar, sua desorientação e quase perda da identidade, inviabilizam a reflexão sobre suas práticas, perspectivas e sua intervenção no universo docente no cotidiano da escola. Existe uma dificuldade do próprio coordenador pedagógico no desenvolvimento do seu trabalho em definir seu campo de atuação na escola. Muitas das vezes ele sabe qual é o seu papel, porém abre mão por conta dessas crenças auto-realizadoras no interior da escola, acompanhando o ritmo ditado pelo senso comum que está cada vez mais arraigado no pensamento da maioria dos profissionais que atuam na escola e da comunidade escolar como um todo.
       Na tentativa de responder às demandas da escola, conforme o imaginário construído no interior da escola, o coordenador afasta-se de seu referencial atribuitivo. Este afastamento instabiliza o profissional, a tal ponto que, segundo Bartman (1998, p. 1):
 [...] o coordenador pedagógico não sabe quem é e que função deve cumprir na escola.    Não sabe que objetivos persegue. Não tem claro quem é o seu grupo de professores e quais     as suas necessidades. Não tem consciência do seu papel de orientador e diretivo. Sabe  elogiar, mas não tem coragem de criticar. Ou só critica, e não instrumentaliza. Ou só cobra, mas  não orienta.
        Nesse sentido, um novo olhar acerca da relevância do trabalho do coordenador pedagógico na escola há que se buscar, mediado pelo equilíbrio de suas atribuições como um dos eixos imprescindíveis à melhoria das práticas pedagógicas sistematizadas onde cada um e todos se tornam co-responsáveis pelo processo ensino aprendizagem.
        Sendo assim, o maior desafio do coordenador pedagógico é construir seu novo perfil profissional e delimitar seu espaço de atuação. Neste sentido, Fonseca (2001) destaca a necessidade do papel de um novo olhar do coordenador pedagógico na escola que deve ser orientado para:
-Resgatar a intencionalidade da ação possibilitando a ressignificação do trabalho – superar a crise do sentido;
-Ser um instrumento de transformação da realidade – resgatar a potência da coletividade; gerar esperança;
-Possibilitar um referencial de conjunto para a caminhada pedagógica;
-Aglutinar pessoas em torno de uma causa comum;
-Gerar solidariedade, parceria;
-Ajudar a construir a unidade, superando o caráter fragmentário das práticas em educação, a mera justaposição e possibilitando a continuidade da linha de trabalho na instituição;
-Propiciar a racionalização dos esforços e recursos (eficiência e eficácia), utilizados para atingir fins essenciais do processo educacional;
-Ser um canal de participação efetiva, superando as práticas autoritárias e/ou individualistas e ajudando a superar as imposições ou disputas de vontades individuais, na medida em que há um referencial construído e assumido coletivamente;
-Aumentar o grau de realização e, portanto, de satisfação de trabalho;
-Fortalecer o grupo para enfrentar conflitos, contradições e pressões, avançando na autonomia e na criatividade e distanciando-se dos modismos educacionais;
-Colaborar na formação dos participantes.
        Este olhar se faz necessário como busca da identidade deste profissional. É, sem dúvida, um espaço de conquista, de resolução de problemas e de assunção do papel profissional do coordenador pedagógico como ator social, agente facilitador e problematizador do papel docente no âmbito da formação continuada, primando pelas intervenções e encaminhamentos mais viáveis ao processo ensino-aprendizagem.
       Construir a identidade de um ofício e construir-se nele é realizar uma prática que busca o significado do papel e exercício da cidadania, pois a vivência escolar e nesta o desenvolvimento do trabalho pedagógico sustenta-se nos intercâmbios e nas aprendizagens comuns, respeitando-se a diversidade de posicionamentos. Sobre isso Lima (2007) enfatiza:
       Na sociedade do conhecimento em que vivemos que caracteriza pelo processo ensino-aprendizagem permanente e continuado (mundo globalizado e em processo de globalização) não é possível entender a escola e suas relações como se estivessem desvinculadas da totalidade social, materializando seus esforços, simplesmente, como transmissora de conhecimentos cujo dever formal se completa na formação de sujeitos determinados para uma sociedade impessoalizada e alienante.
      A coordenação pedagógica em seu sentido estrito deve garantir um espaço de diálogo, fortalecendo assim a vitalidade projetiva dos atores sociais na luta por uma educação de qualidade e primando pela superação dos obstáculos que inviabilizam as ações coletivas. Cabe ao coordenador pedagógico, junto com todos os outros educadores, exercer o ‘ofício de coordenar para educar’ também aqui no sentido de possibilitar trocas de saberes e experiências e aprender a aprender.
       Assumindo diferentes perfis, construindo-se no cotidiano escolar, a identidade deste profissional desdobra-se em diferentes posicionamentos entre rupturas e permanências, mas sem perder de vista a sua atribuição maior na convergência da formação de si e do outro. Se entendermos que a identidade é um processo de construção, então se propõe que sejam criados tempos de convivência, da coordenação pedagógica com os professores, e nestes possibilitadas as alternativas de formação continuada de todos os educadores evolvidos nesta construção.
      Construir um ambiente democrático não é tarefa fácil e, por isso, não é empreitada para apenas um elemento. “Uma gestão participativa também é uma gestão da participação” afirma José Carlos Libâneo (1996, p. 200). Quem ocupa cargos de liderança – como coordenador pedagógico ou diretor – precisa despir-se do posicionamento predominantemente autocrático para possibilitar o desenvolvimento de um clima em que todos contribuam com idéias, criticas, encaminhamentos, pois a gestão e participação pedagógica pressupõem uma educação democrática, ou seja, envolve muito mais do que estabelecer o que é urgente e prioritário, mas se assenta nas dimensões do ouvir, sugestionar em benefício do coletivo, revisitar posicionamentos, quando necessário, e primar pela análise e desdobramento do que é imprescindível para o processo ensino-aprendizagem discente, da formação continuada do professor e das metas que a escola se propõe em determinada situação ou realidade escolar. É preciso evidenciar e garantir espaços e tempos de debates. Administrar conflitos não é tarefa fácil. Acredita-se que as divergências podem ser valorizadas quando há respeito e consciência de que a formação continuada se dá e só tem sentido com a contribuição do outro.
      Numa proposta metodológica de ação-reflexão podem-se identificar três grandes etapas: Compreensão da realidade da instituição; Análise das raízes dos problemas (compreendendo a realidade escolar) e Elaboração e proposição de formas de intervenção de ação coletiva. Certamente estas são etapas significativas para o trabalho do coordenador pedagógico porque envolvem uma leitura de uma totalidade que prima pela contextualização de todos os elementos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, bem como das condições em que este se processa, levando também em conta as delimitações da função, mas ao mesmo tempo todas as contribuições que se fazem no cotidiano escolar.
         Muito mais do que a nomenclatura do cargo, na constituição da coordenação pedagógica deve-se primar pelo significado que tal cargo deve exercer em nível de liderança e condução dos trabalhos pedagógicos de uma unidade escolar.
       Numa gestão democrática há espaço para o diálogo e tomada de decisões de acordo com o bem comum do coletivo. Ao cultivar este espaço, no qual o coordenador pedagógico se coloca como mediador/orientador, pode-se crescer junto com o professor ampliando todos os olhares, sem perder de foco a responsabilidade de cada um no processo. Neste sentido, há que se ter a consciência de que o professor e também coordenador não tem todas as respostas para todos os eventos que ocorrem, mas as problematizam, encaminhando-as da maneira mais viável possível dentro do que se defende como processo democrático. No coletivo é possível buscar soluções para as adversidades que surgem no ambiente escolar.
       O coordenador pedagógico, sem dúvida nenhuma, é uma peça fundamental no espaço escolar, se ele atuar no sentido de integrar os envolvidos no processo ensino aprendizagem, mantendo as relações interpessoais de maneira saudável, valorizando a formação do professor e a sua própria formação, desenvolvendo habilidades para lidar com as diferenças com o objetivo de ajudar efetivamente na construção de uma educação de qualidade, dando voz e vez aos elementos envolvidos neste processo. Isso só será possível no espaço de diálogo e debate com o coletivo.

 Referências Bibliográficas
 LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: Teoria e Prática. Goiás; Alternativa, 1996.
LIMA, Paulo Gomes. Possibilidades ou potencialidades: a postura piagetiana na epistemologia genética sobre a gênese da inteligência. Acta científica. Ciências Humanas. Engenheiro Coelho: Unaspress: v. 02, n. 09, p.17 – 21- 2007.
PILETTI, N. Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental. São Paulo: Ática, 1998.
REVISTA NOVA ESCOLA, Gestão Escolar. Trio Gestor: Um trio coeso e bem articulado, ANO I – nº6 –p.22 a 28-Fevereiro/Março 2010.

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