Madalena Freire
Weffort
Aprendizagem do olhar
O
ver e o escutar fazem parte do processo da construção desse olhar . Também não
fomos educados para a escuta .
Em geral
não ouvimos o que
o outro fala ,
mas sim
o que gostaríamos de ouvir .
Neste sentido imaginamos o que o outro
estaria falando... Não partimos de sua fala , mas de nossa fala interna .
Reproduzimos desse modo o monólogo que nos ensinaram.
O
mesmo acontece em
relação ao nosso
olhar estereotipado, parado, querendo ver
só o que
nos agrada ,
o que sabemos, também
reproduzindo um olhar
de monólogo . Um
olhar e uma escuta
dessintonizada, alienada da realidade do grupo .
Buscando ver e escutar não o grupo (ou o educando ) real , mas o que temos na nossa
imaginação , fantasia
– a criança do livro ,
o grupo idealizado.
Nesse
sentido a ação
de olhar é um
ato de estudar
a si próprio ,
a realidade , o grupo
à luz da teoria
que nos
inspira. Pois sempre
“só vejo o que
sei” (Jean Piaget). Na ação de se perguntar
sobre o que
vemos é que rompemos com as insuficiências
desse saber , e assim ,
podemos voltar à teoria
para aplicar nosso pensamento
e nosso olhar .
Neste
processo de aprendizagem venho constatando alguns movimentos
na sua construção :
·
o
movimento de concentração
para a escuta
do próprio ritmo ,
aquecimento do próprio
olhar e registro da pauta para a observação . O que
se quer observar ,
que hipóteses
se quer checar ,
o que se intui que
não se vê ,
não se estende, não
se sabe qual o significado ,
etc.;
·
o
movimento que
se dá no registro das observações ,
seguindo o que cada
um se propôs na pauta
planejada. Onde o desafio
está em sair
de si para colher os dados da realidade significativa
e não da idealizada;
·
o
movimento de trazer
para dentro
de si a realidade
observada, registrada, para assim
poder pensá-la, interpretá-la. É enquanto reflito sobre
o que vi , que
a ação de estudar
extrapola o patamar anterior .
Neste movimento podemos nos dar conta
do que ainda
não sabemos, pois
iremos nos defrontar
com nossas hipóteses
adequadas e inadequadas e construir um planejamento
do que falta
observar , compreender , estudar .
Podemos
concluir , portanto ,
que o fato
de observar envolve todos
os outros instrumentos :
a reflexão , a avaliação e o planejamento pois todos se intercruzam no processo
dialético de pensar a realidade .
Direcionando
o olhar
O
instrumento da observação
apura o olhar
(e todos os sentidos )
tanto do educador
quanto do educando
para a leitura
diagnóstico de faltas
e necessidades da realidade
pedagógica .
·
o
foco da aprendizagem individual e/ou
coletiva ;
·
o
foco na dinâmica
na construção do encontro ;
·
o
foco da coordenação
em relação
ao seu desempenho
na construção da aula .
No
início desse aprendizado ,
em qualquer
grupo , é adequado ter
somente um foco para priorizar ,
ou na aprendizagem, ou
na dinâmica , ou
na coordenação . Dado
como suposto
a grande dificuldade
de concentração do olhar ,
do pensamento e da participação ao mesmo tempo , é aconselhável priorizar um foco por vez .
No
foco da aprendizagem o desafio
do educador é lançar
questões que
cercam a observação do educando em relação ao seu próprio processo (ou do grupo ) de
aprendizagem. Questões como : - Que momentos de mal
estar eu vivi
no decorrer da aula ?
- O que de mais
significativo constatei que
sei e que não
sei? Etc. Com estas questões
lançadas no início do encontro – e que
serão no final
retomadas na avaliação da aula - , o desafio é obrigar o educador a
construir um
distanciamento (reflexivo )
sobre o seu
processo de aprendizagem durante
o desenvolvimento da aula .
Os
pontos de observação
em cada
foco apóiam a construção
do aprendizado do olhar
– olhar a dinâmica
do encontro , dinâmica
que não
significa criar atividade
de sensibilização, dinâmica que aqui é entendida como
o jeito , o ritmo
que o grupo
viveu a construção das interações
na aula , acelerado, arrastado, em desarmonia , em harmonia ,
etc. Dinâmica que
envolve observar o grupo
juntamente com
a coordenação .
Aprendendo
a olhar a si próprio , ao grupo , a dinâmica que
vai sendo composta , vai alicerçando a capacidade de ler e estudar a realidade .
Neste espaço onde o educando fez devoluções
sobre seu
ensinar e aonde
o educador vai podendo construir-se
(educando-se) também enquanto aprendiz .
O
educador quando
desempenha a função
de observador , como
co-produtor que foi da pauta e do planejamento
do professor , tem uma atuação
vivamente reflexiva ,
porém silenciosa
para o grupo .
Ele é um
outro educador ,
com uma tarefa
diferenciada, específica : - Observar a coordenação
no seu ensinar ,
na sua interação
com o grupo
e seus participantes.
Ele faz devoluções de suas observações
para o educador
do grupo . Neste sentido ,
um educador ,
quando está nesta função ,
é educador do educador .
Por isso
mesmo não
interage com os educandos
de seu educador ,
mas somente com ele (educador ), devolvendo-lhe suas
observações , espelhando conquistas e faltas
na prática deles.
[1] Texto
retirado do livro : FREIRE, Madalena . Observação , registro e reflexão . Instrumentos
Metodológicos I. 2ª ED. São Paulo : Espaço Pedagógico ,
1996.
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