Secretaria de Educação - Igrejinha/RS - Educação Infantil

Secretaria de Educação - Igrejinha/RS - Educação Infantil

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Reflexões sobre adaptação na Educação Infantil

Muitos pensam que a adaptação escolar é o período inicial no qual a criança ingressa pela primeira vez na escola. Com certeza, esta é uma adaptação, mas não a única, pois na escola, acontece todos os anos, em várias idades, inclusive no ingresso numa faculdade, mudança de turno, sala de aula ou de trabalho, curso de especialização, mestrado, etc. De forma geral, o ser humano, em sua formação,encaminha-se de uma adaptação a outra consecutivamente: sair do ventre materno exige adaptação, respirar, ouvir, mamar, sair do hospital, chegar ao lar, a ingerir os primeiros alimentos, deixar de ser filho e tornar-se pai/mãe... Todas essas adaptações influenciam e até permeiam a adaptação na primeira escola, pois todas essas mudanças podem ser traumáticas ou não, dependendo da forma que forem vividas pelo bebê e a maneira que será auxiliada pelo adulto responsável. Assim, toda a adaptação pode ser positiva ou negativa. 
A vida é repleta de encontros e separações. A separação é uma experiência que ocorre em todas as fases da vida humana. Ela começa quando o bebê deixa o útero materno e a partir daí, todas as suas conquistas representarão novas adaptações, pois significam o ingresso no desconhecido e no novo. A angustia da separação da mãe é uma das sensações que acompanham o ser humano em todo o seu desenvolvimento. No ingresso escolar, essa angustia é vivida por mães e filhos. Com as mães é necessário trabalhar a angustia permitindo que as mesmas permaneçam observando o espaço escolar, preferencialmente sem que seus filhos as vejam, para que ela averigúe os benefícios adquiridos pela criança na escola. Com a criança é importante que ela não vincule o cansaço à escola. Como a instituição de educação infantil é repleta de desenhos nos muros, parques, espaços carinhosamente preparados aos educandos, além de atividades planejadas para o desenvolvimento de cada fase da infância, todo esse preparo produz um cansaço na criança nos primeiros dias de escola. 
Por este motivo, para uma adaptação agradável, o tempo de permanência na escola durante os primeiros dias deve ser menor e crescendo progressivamente com o passar dos dias. Esta também é uma maneira de não romper abruptamente a rotina que a criança possuía anteriormente com sua mãe, bem como a mãe não ficar por muito tempo afastada de seu amado filho, sentido-se por vezes, abandonada.
Assim, os pais ocupam papel importantíssimo nessa experiência e devem receber todo o apoio, interesse, esclarecimento, ajuda e motivação. Para isso, é importante ter claro o papel da escola, o que a escola representou na vida pessoal de cada um e o que os pais desejam que a escola represente para seu filho.
Também é fundamental acreditar na capacidade de seu filho e ter claro que a adaptação é algo que pertence às transformações. Bem como crer na possibilidade do próprio filho (mesmo os bebês) resolver seus próprios conflitos pela linguagem e expressão adequada da mesma, evitando gritos e palavras inadequadas sempre que situações conflituosas aconteçam, pois a criança buscará de início os gritos, mesmo quando ela já possui grande acervo linguístico. Nestas situações, a professora conversa com o aluno individualmente, deixando claro que na escola, todas as situações são resolvidas pela conversa.
Facilitar a adaptação do bebê para que a mesma seja positiva demanda conhecimento, percepção, tranqüilidade e principalmente a conversa constante dos pais e adultos responsáveis pelo mesmo. Quando o adulto organiza o seu pensamento sobre o ser que está sob sua responsabilidade, tende a falar com este, utilizando a linguagem para antecipar as situações que poderão ocorrer: como será à saída do hospital, a chegada ao lar, o ingresso na escola. Essa reflexão minimiza a ansiedade de ambos (adulto e criança) frente às novidades inerente às adaptações.
Desta forma, ingressar na escola exige uma adaptação da criança, mas também de toda a família e de todo o grupo que recepcionará esta criança. Assim, no primeiro momento de adaptação da criança na escola precisa ocorrer no horário em que ela esteja mais disposta fisicamente, bem como iniciar com pequenos períodos de tempo e os mesmos progressivamente irem aumentando, ficando atenta em encaminhar a saída da criança principalmente no momento que ela estiver mais gostando, pois sairá com vontade de voltar.
Neste período, a professora prima pela socialização da mesma, diminuindo as atividades mais acadêmicas, permeando o momento de permanência escolar com atividades mais livres e socializadoras, primando pelo cuidado físico da criança, pois se a criança não estiver atendida em suas necessidades básicas: sono, alimentação, necessidade de movimento, roupas adequadas ao clima, a insatisfação será vinculada ao fato de ir à escola. A criança precisa sentir-se segura na escola para que possa aprender cognitivamente e terá tempo ao aprendizado após sentir a escola como pertencente a sua rotina. Nas mudanças de professora, a mesma deve inicialmente conquistar a criança para posteriormente estabelecer a rotina. 
Para a criança, a escola tanto pode ser descrita como mundo encantado, organizado especialmente para os infantes brincarem com qualidade, com amigos que auxiliará em seus aprendizados, professores que ajudarão nas situações que ocorrerem, ficando assim mais inteligente, como ser um lugar no qual os pais deixarão seus amados filhos por não poderem ficar com ele. Se esta última situação ocorrer, a sensação de abandono imperará na relação: adulto/criança. Desta forma, a primeira questão para a adaptação na escola em toda e qualquer fase do desenvolvimento infantil é ter claro o que o espaço escolar representa à família. Que ideia de escola o adulto possui e como ele passará este à criança, o que esperar da escola, são questionamentos que permearão pensamento do adulto e demais ações frente a esse novo aprendizado da criança: ingressar no ambiente de educação formal – adaptar-se na escola. Confiança é uma palavra importantíssima quando se trata de iniciar uma nova relação e este sentimento demanda tempo e averiguação do trabalho da equipe, permeado ao ambiente que a instituição proporciona como um todo. Assim, toda adaptação exige um tempo da criança e do adulto para construir os novos relacionamentos com confiança.
Como a escola é um espaço coletivo, que segue regras de órgãos que estabelecem o seu funcionamento dentro de parâmetros específicos, a adaptação na escola precisa de comunicação constante entre pais, professores e coordenadores, pois através do diálogo que a confiança e o conhecimento se fundamentam.
Outro aspecto primordial é ter claro, que é justamente através da separação da mãe que a criança organiza-se enquanto sujeito e muitas vezes, é a escola que faz essa separação (delicada e dolorida para a maioria das mães). Pelo fato da mãe gerar um novo ser em seu próprio corpo e o alimentar através do mesmo, a relação mãe e filho é muito simbiótica, no qual por vezes a mãe tende a interpretar a criança e a falar constantemente por ela, algumas vezes até em excesso. Se a mãe responde constantemente pela criança, a criança além de não sentir-se estimulada a responder, ficará num conflito íntimo, pois se percebe impulsionada a agir, porém impotente em responder, bem como confusa em seus pensamentos. Desta forma é essencial lembrar que a comunicação se estabelece
através da linguagem que demanda uma ação que solicita uma resposta que pode não ser imediata. Dar espaço a resposta da criança, mesmo que esta venha através de um olhar, um instante de silêncio para depois ocorrer a palavra, possui suma importância ao desenvolvimento saudável do ser humano.
Adaptar-se na escola não é diferente, pois gerará a separação, por pouco tempo, da família. Essa concepção precisa estar clara. Os adultos, enquanto profissionais nas mais variadas áreas, preparam-se, organizam-se e se capacitam ao trabalho e enquanto pais, também precisam se preparar, organizar-se e capacitar seus filhos na vida social e o ambiente propício a este aprendizado é a escola. Esse aprendizado é mais fácil quanto mais nova for a criança. Nos primeiros meses, a adaptação da criança é rápida, pois ela precisa reconhecer como pertencente à sua rotina: o cheiro, o som, os profissionais e a movimentação de seu ambiente escolar. Com o crescimento, a criança passa a expor a contradição de querer ficar com os pais e também desejar permanecer na escola. Esse conflito só é superado com a tranqüilidade e firmeza do adulto em relação à escola, demonstrando à criança que a instituição de ensino e a educação sistematizada auxilia a socialização e ao bem estar do ser humano.
Após a adaptação inicial e a clareza que para a criança, toda a separação demanda de certa angustia, mas que esta será vencida por ser momentânea, permeada diariamente pela alegria do reencontro, a escola passa a ser parte de sua rotina. Nos primeiros anos de vida, a criança encontra-se num momento auto centrado do seu desenvolvimento e desconhece as regras de convivência social. 
compreensão do sentido e do prazer de compartilhar virá posteriormente, depois de um processo mais amplo de reconhecimento do outro. É importante lembrar que haverá novas adaptação a cada reingresso na escola após as férias e este período precisa ter a mesma atenção que o primeiro ingresso escolar.
O choro pode aparecer com maior intensidade nos primeiros dias de adaptação na escola, mas o choro nem sempre significa que a criança não queira ficar na escola, assim como a ausência do choro não quer dizer que a criança está necessariamente se sentindo bem: o silêncio absoluto pode ser um indicador de sofrimento. Desta forma, é importante o adulto estar atento a comunicação da criança ou bebê em todas as suas dimensões. Deve-se ressaltar que o choro é a primeira forma de comunicação da criança e se entendido assim, o choro tende a diminuir quando a criança percebe que o educador prepara atividades e brincadeiras desafiadoras e interessantes.
Alguns cuidados cabem aos pais: entregar a criança para a professora seja esta no chão ou no colo e evitar a solicitação de que a professora retire a criança da mãe, demonstra a certeza dos pais para a criança e se os pais estão firmes de sua decisão, a criança logo supera a frustração do afastamento momentâneo. Evitar que adaptações e situações diferentes aconteçam concomitantemente também é de vital importância, como por exemplo: retirada do quarto dos pais, desfralde, etc.
Os interrogatórios do final do período escolar também cansam as crianças, assim os mesmos devem ocorrer progressivamente, evitando perguntas que sejam respondidas através das palavras: “sim” ou “não”, pois as mesmas não suprem às expectativas dos pais. Caso a criança relate algum aspecto negativo de alguma situação escolar, o adulto deve dar atenção ao mesmo na mesma medida que algo positivo, buscando refletir que durante o dia ocorrem episódios de maior e menor divertimento. Assim, toda adaptação demanda planejamento, calma, paciência, verbalização constante, segurança do adulto, bem como crença na possibilidade de aprendizado infantil.
Lembrar que a presença da mãe de um aluno remete aos demais alunos a falta de sua mãe, trazendo o sentimento de saudade e até de ciúmes perante o novo integrante ou ciúmes do novo integrante devido às outras crianças se aproximarem de sua mãe. Desta forma, a mãe não deve permanecer muito tempo dentro da sala de aula, buscando sair deste espaço e permanecendo na escola de forma que ela consiga ver ou ouvir seu filho sem que o mesmo, ou demais colegas, a percebam.
Outro fator imprescindível aos pais é saber que seus filhos que possuem problemas próprios e se estes sempre forem resolvidos pelos adultos, apresentarão uma adaptação mais delicada, pois terão também que adaptar-se a situação de poder resolver por si algumas situações que são inerentes a socialização. A ambivalência do sentimento dos pais, principalmente da mãe de proteger seu filho e também conseguir dedicar-se a seu cuidado pessoal e profissional é constante, mas este sentimento paulatinamente vai minimizando, dando lugar às alegrias dos progressos constante de seu filho através da percepção dos novos aprendizados.
Desta forma, a escola é importante porque na vida da criança, mais cedo ou mais tarde, só a companhia do adulto não a satisfaz e este é um dos motivos que a criança se agita, fica inquieta e principalmente impaciente quando não participa do universo escolar. Criança necessita de criança e a neurologia nos prova que o desenvolvimento da inteligência ocorre primordialmente na primeira infância e este ocorre com profissionais especializados e capacitados a este trabalho.
Esclarecer ao infante que ninguém mora na escola, pois todos possuem suas casas e famílias, o faz compreender que não será abandonado na escola, bem como que todos os dias, a rotina dos pais buscarem seus filhos é real.
O principal objetivo da educação infantil é a socialização e esta ensina a conviver em grupo, isto é, viver com as diferenças, aprender a esperar, observar, dividir, solucionar problemas da idade, colaborar, participar, perceber os próprios progressos, enfim, desenvolver a inteligência através das atividades livres e dirigidas e tornar-se um ser único em meio a tantos outros que possuem similaridades. Outro aspecto da educação infantil é que cada vez que um processo neurológico de maior maturidade tende a ocorrer, é normal a criança demonstrar certa regressão e esta regressão, muitas vezes, ocorre durante a adaptação.
Wallon nos ensina que adaptação esculpe o corpo. A criança aprende primeiramente com o corpo para depois racionalizar seus aprendizados. O movimento constante, o desejo de mexer em tudo, é parte da adaptação e se esta for superada, ampliará e constituirá a auto-estima de forma agradável e saudável.
Adaptar-se é permitir que uma parte desconhecida acrescente-se a rotina, modificando-a e proporcionando novos aprendizados. Assim, cada ano é necessário uma nova adaptação à turma, sala, horários e rotina até mesmo da família. Se este período for conversado, falado, explicado, significado, o mesmo transcorrerá de forma mais leve, agradável e amena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário